O erro de Descartes

Emoção, razão e o cérebro humano

Autor: António R. Damásio, neurologista americano. Livro: 330 páginas.

Este livro é, com razão, sucesso de crítica e de público. O autor apresenta um novo passo indispensável para o entendimento do cérebro. Apesar do título, o livro não tem nada de filosofia, é escrito em linguagem científica, para que até os mais céticos não tenham do que reclamar. O autor diz que a emoção não é separada da razão, por isso Descartes estaria errado ao dizer "penso, logo existo"; Descartes deveria ter dito "penso e sinto, logo existo". É um trocadilho meio fraco, mas tudo bem. Posso dizer que o autor é repetitivo em seus textos, além de escrever muito pra dizer pouco.

O cérebro está perfeitamente mapeado, cada área tem suas funções específicas. Esse mapeamento foi feito por séculos de medicina em experiências do tipo lobotomia (corte de vias neuronais no cérebro), acidentes (quando o paciente perde uma parte do cérebro), "alfinetadas" nas regiões cerebrais e doenças que acometem determinada região cerebral.

O livro começa contando a história de Phineas Cage que, por acidente com explosivos, teve a parte frontal do cérebro perfurada por um bastão. Essa lesão acometeu quase todo lobo frontal, região responsável pela emoção! E, claro, o esperado seria apenas alterações emocionais no Phineas. Mas, além de desvios de comportamento e agressividade, apresentou também burrice, muita burrice. Se você oferecesse um emprego com bom salário e um outro com salário de fome, ele escolhia o pior.

Isso não significa que a área lesada é responsável pela razão também, pelo menos não diretamente. O que o autor propõe é que a emoção veio em primeiro lugar na evolução, e a razão só surgiu depois, usando a emoção como base de sua sustentação. Ou seja, perde-se a emoção, derruba-se a razão.

Ao contrário do que sempre se pensou, a emoção não começou no cérebro, mas nos demais órgãos. Se você leva um susto, quem interage com o meio não é o seu cérebro, os seus olhos vêem, mas são os seus órgãos que mudam de estado, através dos nervos o cérebro é informado a respeito, e só assim você fica sabendo de algo ruim.

Com a evolução, o cérebro apresentou "marcadores somáticos" (soma = corpo) que seriam marcadores existentes nos neurônios do cérebro. Os marcadores somáticos teriam decorado todas as configurações possíveis de estados dos órgãos do corpo, assim não é mais preciso que a informação de algo ruim viaje até os seus órgãos, pois na célula cerebral já existe o marcador somático, que seria um processador de emoções mais evoluído (pois encurta o caminho da informação) que o corpo.

Assim você sabe se algo é bom ou ruim. Aí está a base da razão - a emoção! É isto que aconteceu com Phineas Cage, ele não mais tinha as emoções, então não distinguia o bom do ruim. Se você oferecesse um emprego à ele com ótimo salário e outro com salário mísero, ele com certa frequencia escolhia o segundo, afinal não podia ter um sentimento bom ou um sentimento ruim. Nós escolheríamos o emprego melhor pois iríamos ter um sentimento agradável ao saber dele, rejeitaríamos o salário mísero pois teríamos um sentimento ruim a respeito.

Em qualquer situação da vida em que você tem que escolher entre várias opções possíveis, você estará usando a razão para escolher a(s) melhor(es) opção(ões). Mas a razão só é possível devido à questão emocional da situação, pois a sua escolha será baseada em bom ou ruim, que são palavras ligadas à emoção. Infelizmente, sempre ouvimos a frase: não deixe a emoção atrapalhar, seja frio e faça o certo. Como você pôde notar, o autor rebate esse tipo de pensamento com muita ciência e argumentação.

Já deu pra perceber que os marcadores somáticos estariam no lobo frontal do cérebro. Esses marcadores são apenas teoria, pois não existe nada concreto a respeito deles. O principal do livro é isso, agora você já conhece a mais nova teoria sobre a razão, e que a razão é posterior à emoção. Tanto é que o córtex cerebral, responsável pela razão, é a última camada do cérebro a ser criada na evolução.

Essa teoria é defendida pelo autor com uma série de experiências com pacientes que sofrem de lesão cerebral no lobo frontal.

No livro várias funções são detalhadas, como a intuição, vários tipos de sentimentos, emoções, etc. Por exemplo, temos o que o autor chama de "sentimento de fundo" que, segundo ele, estaria próximo ao EU, do qual o autor teve a perspicácia de aumentar o termo para EU NEURAL, para deixar claro que o EU é um processo nervoso. Porém a parte do livro em que o autor fala sobre o EU NEURAL é só embromação, não apresenta praticamente nada de novo a respeito, percebe-se que este tema foi abordado apenas para mostrar sua preocupação com o tema e para que o autor seja lembrado como quem abordou o tema em seu livro, o que poucos lembrarão é que foi em vão.

Uma parte interessante é a que ele explica o amor: o amor seria indispensável para a sobrevivência das espécies, é um mecanismo de defesa da espécie. Os animais se reproduzem por causa do amor, a mãe pássaro defende seus filhotes de um gavião predador por causa do amor que sente pelos filhos, e assim em diante. O autor tira todo o fundo misterioso sobre o amor criado pelos poetas, e ainda desfecha dizendo que o amor acontece devido à uma substância química, a oxitocina, que age no corpo nas horas certas, tudo para que a espécie sobreviva e evolua. Portanto esqueça o amor e se preocupe em fazer a evolução humana que já se encontra em sua puberdade intelectual e tecnológica.

O autor sempre enfatiza que, ao tratar de temas como sentimentos e emoções de maneira científica (materialista), não influi na visão artística ou poética dos temas. Pois os sentimentos continuam os mesmos, apesar do entendimento científico.

Crítica (em inglês) de Daniel Dennett, um dos mais reconhecidos filósofos da mente, ao aclamado livro "O Erro de Descartes" de António Damásio.

Crítica de Beavis & Butthead ao livro O erro de Descartes.