Como o cérebro pensa A evolução da inteligência, ontem e hoje |
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Autor:
William H. Calvin, neurofisiologista americano. Livro: 196 páginas.Um complexo estudo da inteligência dos animais e humanos. O primeiro capítulo diz que os seres inteligentes sempre tem em mente "o que fazer a seguir", mostra como a teoria de Darwin tem um papel fundamental na evolução da inteligência. E, de praxe, questiona o método de avaliação do QI. Diz que ser inteligente não significa ir bem em testes de múltipla escolha, mas ser criativo.
No segundo capítulo: a inteligência está apenas no córtex cerebral, com a evolução as vias neuronais da massa branca ficaram mais isoladas umas das outras, isso aumentou a velocidade de transmissão, contribuindo para a inteligência. É muito difícil aumentos regionais do cérebro, ou seja, se sua visão se torna melhor, todo o resto do cérebro evolui junto, ao contrário do que se pensava, à exceção do olfato que é por demais de evoluído em alguns animais. A inteligência diz respeito ao processo de improvisação e aprimoramento na escala temporal do pensamento e da razão.
Grande parte do pensamento consiste em novas combinações de coisas antigas, a exemplo de Shakespeare com as palavras. Ser brincalhão auxilia na diversidade dos pensamentos correntes no cérebro de um cão, macaco ou humano, isso aumenta as capacidades de conexão e as possíveis respostas, já que o remonta para uma variedade inimaginada racionalmente. O autor mostra os passos de aperfeiçoamento da inteligência, como os passarinhos que acabaram de nascer e, mesmo assim, abaixam para evitar um gavião predador, eles nascem com esse reflexo de medo a qualquer objeto estranho, e vai se acostumando com algo familiar apenas. E, também, a formação de movimentos inconscientes como levar uma xícara de chá à boca.
No terceiro capítulo, o autor questiona negativamente a hipótese dos físicos sobre a consciência, que seria promovida por processos quânticos no nível subcelular, nos delgados microtúbulos que muitas vezes se aglomeram perto das sinapses. Porém a autor não explica nada sobre a teoria quântica da consciência. Expõe, também, as interpretações do que seria a consciência, já que no meio médico, por exemplo, seria apenas estar acordado. O autor diz que a consciência deve ser investigada em todos os níveis de organização cerebral, desde a mecânica quântica até os fractais formados pela complexa rede neuronal.
O filósofo Paul M. Churchland fez uma lista mais útil, notando que a consciência:
O quarto capítulo, "Animais inteligentes em evolução", é muito chato, pois fala sobre a já "batida" evolução. O autor apresenta as vantagens e desvantagens da versatilidade, inspirado na especialização de funções e na generalização de funções. Por exemplo, diz que um ser que se especializa se encontra fragilizado em relação à instabilidade do meio, enquanto um animal com funções mais variadas pode ser mais versátil em relação às variações de seu meio.
No quinto capítulo, o autor discute a importância da sintaxe na inteligência, dando exemplos como de surdos que não desenvolvem a inteligência por falta da linguagem falada, e de japoneses que não distinguem o L do R devido à linguagem diferente. O autor argumenta em cima de orações, uma possível estrutura de pensamento a respeito da oração, esquematizando o que ele chamou de "sistema de içamento e transporte de carga a vácuo de Calvin", e não convence nada.
A metade final do livro, fecha com chave de ouro. É a parte mais sólida da obra, onde o autor explica a fisiologia a níveis celulares, usando a anatomia microscópica como instrumento. Segundo o autor, o pensamento não age como os dados num computador, o pensamento apresenta-se na forma de ondas neuronais, seria como música que penetra no nosso cérebro estimulando os neurônios harmoniosamente. Mas não é música, é pensamento.
Os neurônios são distribuídos no córtex em minicolunas de 0,03mm de diâmetro, contendo uma centena de neurônios. Sinais de entrada repetitivos e sincronizados penetram um par de neurônios, isso ativará neurônios que estão equidistantes, formando um cabo neuronal que estende por uma certa área, apresentando um padrão espaço-temporal (código cerebral). Forma-se então o traço de memória - sulcos e calombos essenciais para fazer resurgir o padrão espaço-temporal.
Por isso nós assimilamos melhor o que já nos é familiar, e o que possui maior carga emocional para nós. A autor também defende uma máquina Darwiniana neocortical para a fluidez do pensamento, mas detalha esse assunto num outro livro, The Cerebral Code.
No último capítulo, "Perspectivas de uma inteligência sobre-humana", o autor estuda os caminhos para tal, falando com o leitor sobre a cibernética e sua evolução como ser superior, incluindo a possível consciência que a cibernética poderá adquirir. É um capítulo pobre em informação ou filosofia.
O livro é recheado de trechos, escolhidos a dedo, de pensadores ilustres; aqui vão alguns:
O paradoxo da consciência - ou seja, que quanto mais consciência temos, mais camadas de processamento nos separam do mundo - é, como tantas outras coisas da natureza, uma barganha. O distanciamento progressivo do mundo externo é simplesmente o preço pago por saber qualquer coisa a respeito do mundo. Quanto mais profunda e ampla nossa consciência do mundo se torna, mais complexas são as camadas de pensamento necessárias para obter essa mesma consciência.
Derek Bickerton, Language and Species, 1990
O mundo do futuro será uma luta ainda mais árdua contra as limitações da nossa inteligência, e não uma rede confortável na qual poderemos deitar e ser servidos por nossos robôs escravos.
Norbert Wiener, 1950
...Não acho que tenhamos qualquer possibilidade real de escolha, pois posso ver apenas um único caminho à nossa frente. Precisamos de ciência, mais e melhor ciência, não por sua tecnologia, não por divertimento, nem mesmo por questões de saúde e longevidade, mas pela confiança na sabedoria que nosso tipo de cultura deve adquirir para sua sobrevivência.
Lewis Thomas, 1979
O futurista Thomas F. Mandel, ao dirigir-se aos seus amigos do ciberespaço enquanto lutava contra suas perspectivas cada vez mais sombrias de sobreviver a um câncer pulmonar:
Eu tinha um outro motivo para introduzir este tópico; para dizer a verdade, um que aparece em quase tudo que fiz na rede nos cinco meses desde que meu câncer foi diagnosticado.
Percebi, como todos os outros, que meu eu físico não iria sobreviver para sempre e supus que teria menos tempo do que os provedores nos alocam na rede. Mas se eu pudesse sair e tocar todos os que conheci na rede... eu poderia separar as migalhas do meu eu virtual e os memes que constituem Tom Mandel, e então, quando meu corpo morresse, eu não teria realmente que partir... Grandes pedaços de mim também estariam aqui, fazendo parte desse novo espaço.
Não é uma idéia original, mas, ora bolas, vale a pena tentar, e talvez algum dia alguém possa reconstruir todas as peças criando uma espécie de mandelbot* e eu possa ser arrogante e obstinado, carinhoso e compreensivo, e tudo o mais que vocês todos parecem achar que eu sou.
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mandelbot: Trocadilho envolvendo o sobrenome do matemático Benoît B. Mandelbrot, que cunhou o termo fractal, a partir do latim frangere (quebrar) e fractus (irregular, fragmentado) para designar formas auto-similares.Crítica de Beavis & Butthead ao livro Como o cérebro pensa
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